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Em 2014 lança seu livro de poesias Guardanapos pela editora 7Letras, com texto de apresentação do poeta Xico Chaves. 

Guardanapos de Poesia

 

Cristiano tinha um pistom e pinta de poeta. Soprava  pelas quebradas do Rio de Janeiro até que um dia, com sua voz radiofônica, foi botar a boca no trombone na Rádio Roquette Pinto, com o programa Panos e molambos. Fez lá as primeiras crônicas poéticas e musicais daqueles anos 70 carregados de chumbo. Fez vibrar no ar os compositores proibidos, os clássicos da MPB, os jovens músicos e artistas que despontavam naquele momento e nunca mais parou. Afinal sempre foi um poeta  locutor, programador e produtor. Certamente já guardava no baú seus primeiros poemas concebidos na solidão geométrica de Brasília, na modernidade de concreto e vidro. Agora vem surpreender mais uma vez e descartar talvez a síntese de todos estes anos, com seu primeiro livro de poemas: Guardanapos.

Um memorial de seu próprio itinerário, claro como um texto para rádio, radioativo em seu conteúdo existencial, onde o humor e a afetividade transbordam nos cenários urbanos do Rio de Janeiro, seu território de origem. Sim, está na Capital Federal e em Portugal em alguns momentos, mas sustenta o balanço carioca, a mesa de bar, os balcões de boteco, os amigos de sempre e os da hora, os romances reais e imaginários, as paixões ocultas nas noites, dias e madrugadas, nas fronhas dos apartamentos, no perambulatório ofício de estar em muitos lugares ao mesmo tempo, certamente onde registra um relâmpago de palavras, como se caíssem em um guardanapo. Também não lhe escapa o suplício da burocracia das tramas de seu ofício e a angústia de ter que conviver com a mediocridade, o silêncio e a falta de ousadia.

Sua poesia é urbana e cosmopolita, se identifica com todo personagem que frequenta a boemia, trabalha no dia seguinte ou no mesmo dia, toma o metrô, o bonde de Santa Teresa, vai ao Maracanã, se dedica aos filhos e some num bloco de carnaval transbordado na folia. Reclama das transformações urbanas que desmancham a história e a poesia do Rio, infestado de anúncios luminosos, bugigangas eletrônicas, desfigurações, quinquilharias. Percebe que um pouco de si se desmorona assim a cada instante mas que os cenários em seu coração permanecerão para sempre. O poeta Cristiano escreve quase como se fala, sem artifício, como se atirasse numa pauta musical livre de cinco linhas. Deve ser o pistom ou a noite, o samba, o jazz, a canção, os amores, as luzes da cidade.

 

Xico Chaves

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